Eu estava na estação, eram cinco da manha quando liguei para ela. Tive medo antes dela atender, mas quando escutei sua voz rouca e com sono perdi todo o medo, e tive a certeza que era ela mesmo que eu devia ter ligado naquele momento.
Primeiro ela ficou calada quando eu disse quem era que falava do outro lado da linha. Não calada por não saber o que falar, mas por saber exatamente o que falar, e por ser tanta, mas tanta coisa. Ficou perdida, encheu o momento de silêncio, de tensão, e logo me disse: Você. Que o tempo perdeu.
O tempo me deixou a perder, mas muito mais a ganhar. Eu disse a ela. Ganhar o que? Ganhar perdas? Respondeu.
O tempo me trouxe de volta.
De volta pra onde?
Pra cá, pra você.
Você nunca foi meu.


Você sabe quanto tempo ficou fora?
Quatro anos.
Pois bem, aqui se passaram 10 anos.
Como?
Porque eu vivi tão depressa, quase sem parar, sem fôlego, sem pausas, sem rumo, tão, mais tão intensamente que fiz correr 10 anos desde que você se foi, mesmo que tenham sido apenas quatro pra você.

Ela respirou bem fundo.

Eu precisei correr tanto no tempo para poder não lembrar que você tinha ido. Pra você não me doer.
Eu vivi tão depressa que minha vida mudou de semana em semana. Vivi muitas histórias, mesmo estando sempre no mesmo lugar.
Hoje sou mais vivida, porém mais cansada. cansada demais pra relembrar que um dia te amei, cansada demais pra tentar recordar nossos sentimentos e revivê-los.

E então desligou o telefone.

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