Siga-se/me em passos permanentes. Não importa por onde ou por quem, eu vivo, e não se sabe como, ou porque. Não sei explicar como vim parar aqui. As coisas simplesmente são.

As cores daquele outono


Não há nada que me move,
Meu corpo está parado, diante do tempo que me exponho e minha força é uma pequena fraqueza invisível.
Não quero correr mais, estou cansada de controlar esse vento que sopra para onde quer.
Hoje sai para andar por Nossa Senhora de Copacabana. Ir do Leme até o banco do Drummond,
Sentar ao seu lado, ver o mar não parar para assistir minhas pausas.
Ao lado do Drummond eu revejo os amores perdidos, me dá uma saudade quando penso que tudo isso vai passar, o mar vai continuar e tudo vai passar, tudo já passou,
As folhas das árvores que se entrelaçam e dançam com seu verde e laranja, estão caindo e se transformando o tempo todo.
Me recolho de volta, passo de novo por essa porta de vidro que ontem olhei meu reflexo.
Atravesso o mesmo semáforo,
Penso nas ligações, nos Não-porques,
No tempo e logo me esvazio, começa a chover, eu corro pra dentro de mim, deito na areia molhada,
Deixo tudo sumir,
Estou sendo engolida pelo som do mar, estou sendo inundada pela chuva.
A roupa molhada,
A água leva embora toda dor física,
eu congelo,
não consigo sentir meu corpo. O som vai desaparecendo. Tudo some. Eu desapareço sobre a superfície de mim mesma.
Eu quero envelhecer assim, querendo chorar de tanta explosão de cores que tenho dentro de mim neste instante[...]




É como se somente a meus olhos coubessem ver todas essas frases ainda não escritas. Que de dentro soam em mim tão suave que quase não as percebo.
Vivo assim, planejando qualquer coisa que seja.
Fico quase entregue, quando deito ao som do nada e tudo que parece se movimentar tão rápido, perde as forças e então me dá a oportunidade de ver flash por flash, histórias lindas, de tudo o que se fez e o que há de fazer. Permaneço durante cada flash disparado escrevendo nas linhas invisíveis por baixo da mulher que fui, e a mulher que ainda floresce.
Perco a introdução
do que foi
querer ser
o que sou hoje

A validade das Margaridas



Quando peguei nas mãos o pacote, muitas coisas passaram na minha cabeça, a primeira foi que eu tinha um prazo pra voltar e buscar minhas sementes, eu tinha exatamente um ano para que as sementes perdessem seu prazo de validade.
A segunda coisa, foi extensão e fruto de quem tem uma imaginação comparativa como a minha, então pensei que eu tinha também outros tipos de sementes, algumas já estavam plantadas, mas por não estar por perto, eu tinha medo que um dia chegassem a morrer.
Tantas outras que desejo plantar e fazer crescer, mas ainda não sei plantar as coisas direito, não sei regar como se deve, não sei fazer bater sol, fico com o meu corpo distraído fazendo sombra onde talvez não deveria.
A terceira ou quarta coisa, foi ter pensado no jardim da minha avó, eu sentada na terra, brincando de seqüestrar formigas, de lambuzar a mão de néctar.
A décima coisa foi ter chego a conclusão que querer levar memórias em forma de matéria para qualquer lugar que eu vá não é mais do que querer crer que não abandonei aquilo que eu fui ou que acho que sou ainda, a lucidez diz que é apenas medo de transitar e renascer. Ver nas noites uma lua mais brilhante porem muita mais complicada de se observar.
Na centésima vez que pensei em alguma coisa depois de ficar segurando aquele saco de sementes por tanto tempo nas mãos, foi que desejei que tudo fosse florido não importa onde eu ou você estivesse. Que tudo fosse florido embora não haver sementes plantadas, embora habite sombra, embora não chova e não faça sol.


Sobre
a
luz

lacunas
indetermináveis
Tudo
Aflora
Para fora
Me deixa

Navegar
No fundo
da luz neon
dos
nossos
ânimos
sobrecarregados
de folhas
mortas


Eu não volto
Para RE
Abrir portas
Que o vento que
Entrou pelas janelas
Fechou.
Que tudo seja uma grande oração contemplando todos os dias em que as coisas permanecem vivas, que de tudo que assombra prevaleça o amor e coragem.
Que as coisas tenham muitos gostos, não gosto que as coisas sejam doces o tempo todo. Que as coisas sejam mais iluminadas pelo sol que não entra mais pela minha janela, mas eu ainda o amo, pois ele não entra no meu quarto para me queimar o rosto de manhã, mas sei que pra muitos isso acontece, e a felicidade não é só quando você a está sentindo, é tambem quando está fragil e despedaçada, mas se mantem o minimo feliz, porque a felicidade está existindo para outros.

As pontas

2 minutes Love Story from Matías Montarcé on Vimeo.

me perco
o dia é chuvoso
a aparência é pálida
a pele é limpa
quente coberto
cobertor
só agora eu percebo que é o quinto andar
de onde vou pular
onde mergulhei
de saudade, percebo
que perco no encontro
enrolada
na ponta de uma corda
enrolando
desejo
muito mais
entre morros e prédios
as pontas
Por que a infelicidade existe
se a felicidade não?