De onde as margaridas vieram
para onde vão..
Tenho vivido ciclos de tamanhas dimensões e nada tenho feito para gravar isso a não ser fotos que não me dizem como eu me senti, eu posso perder a memória ou achar que sei como me sentia, mas a verdade é verdade no exato momento que é vivida.
Esta com certeza vai ser a ultima coisa que vou escrever esse ano(2010), e não sei porque decidi que fosse assim.
Quando eu comecei a escrever aos sete anos de idade, amadureci escrevendo como se fosse uma espécie de diário, e depois que cresci, comecei a ler muito, conhecer mais ainda, e meu olho ficou tão grande, e a percepção também, que acho que fiquei boa em inventar coisas, ou reformulá-las, “usar a mentira para dizer a verdade”, linhas cheias de ficção, ou reinvento coisas por cima de algumas verdades do meu cotidiano, mas nada mais era puro, embora parecesse tão intimo, tão meu, pois era, mas não uma construção a flor da pele, sentida, ouvida, faz muito tempo que não escrevo nada que eu própria tenha sentido todo o cheiro.
Tenho presenciado coisas tão lindas e tão horrorosas na minha vida, nos meus dias, que eu tenho certeza que seja realmente um sonho percorrendo em trilhos estreitos, subindo montanhas e montanhas e eu mal consigo ver de onde vim. Neblina, neblina...
“Gentileza gera gentileza” amigos.
Eu sempre me considerei um pouco inocente, ou não sei se essa é apalavra, eu só não consigo entender ou acreditar quando as pessoas fazem muita maldade, e são mentirosas, e ai eu comecei a acreditar, ou me enganar, que elas não dão conta de que estão sendo tão sujas, ou então que elas gostam, e que há pessoas que gostam de viver de umas maneiras completamente estranhas e doentes, eu devo ser uma delas. Só não consigo ser tão doente ao ponto de carregar maldades dentro de mim.
Estou em uma roda onde nunca vi tanto egoísmo, desconstrução, machismo e vulgaridades. E a pessoa mais bonita que conheci não esta mais tão perto. Estou passando por uma fase de aprendizados, onde ceder, foi a coisa mais importante nesses trilhos. Ceder, eu achava que cedia. Cedia sim, pra mim mesma, sempre. Eu achei que aprendi tanto da vida, por mim, pra mim, cuidado pra não se magoar acima de tudo e de todos. E eu queria ser tão sozinha, não me apegar a nada, e eu sei que faço isso muito bem, Foram anos aprendendo, e quando eu vou dormir e vejo que as pessoas que mais amo estão longe de mim, eu só consigo sentir que fui tão egoísta e estúpida que nem sequer soube como passar isso para as pessoas como se fosse ficção, é tão real. Eu penso que tive que ceder, muito além de mim mesma, não para um eu próprio, por nós, pela vida que uni sem explicar porque, ceder alem da minha própria Mao protetora que me cobria das dores que eu tenho medo de sentir novamente. Abro minha Mao, respiro, e cedo, para sonhar algo mais que não seja eu.
Volto,
serena, pensando que por pior que fosse a decepção que tive no rio, eu não estaria sozinha nisso nem que quisesse, e que se eu tivesse sozinha como desejei estar, seria algo triste, como não ter quem abraçar e chorar junto, mas não foi triste, não é, é lindo, pleno, é a vida tendo que ser o que é pra ser, é força.
Em são Paulo, na minha antiga cama, o mesmo teto, a mesma parede que eu pintei, desenhei, as mesmas fotos no mural, meus antigos troféus, meus livros, meus cadernos, a cortina branca na janela, a chuva, a temperatura agradável. Nada mudou, as pessoas continuam com os mesmos hábitos, comprando as mesmas coisas, com as mesmas reclamações, alegrias e etc. isso foi tão estranho pra mim, que me deu uma tristeza estranha. Eu corro sonho, sim! Mas eu não posso sonhar pelas pessoas, mesmo que as ame, eu não posso sonhar por elas achando que isso vai ser melhor para elas, cada um opta pela vida que tem isso é obvio, e eu não posso continuar querendo a vida toda sonhar sonhos que não são meus, querendo que fossem deles. Tive que ceder mais uma vez e entender que está na hora de abandonar essas vidas extras que carrego nos ombros. Eu não posso querer forçar e mostrar a elas que a vida pode ser mais bonita. Eu não posso querer conseguir isso pois quando eu conseguir, fecharão os olhos e não verão nada do que eu desejo que vissem.
As pessoas envelhecem, eu volto, e as vejo cada vez mais velhas, doentes, na UTI, tomando seus calmantes, carentes, e não importa aonde eu vá, a realidade é essa, perderei essas pessoas um dia e vou ter que ceder de novo, pois a passagem continua independente de meus traumas e minhas dores.
Eu devo frustrar por não poder tornar as coisas melhores, por ser tão fechada ao ponto de não conseguir demonstrar esse amor louco que tenho dentro de mim. Acho que esse sempre foi o problema, amo as pessoas demais, ao ponto de me sentir mal, enjoada, fraca, e tive que aprender esconder isso de alguma forma porque pisaram muito em mim, na minha boa vontade, por isso por muito tempo desejei ficar só. Eu não tenho medo das pessoas, tenho medo do que eu sinto por elas e assim pelos problemas que arrumamos como indivíduos falhos, diferentes, egoístas, orgulhosos e sensatos.

Arrumei uma forma de falar de uma solidão que só conhecerei por esta ficção reinventada, pois não a quero mais, e esta é a minha verdade de hoje: PERCORRI ALGUMAS 50 LINHAS, ESCREVENDO UM NOVO LIVRO.

O céu e todo resto

Nossos pés feitos,
Nós nos dizendo que não queríamos partir.
Nossos corpos caminhavam sofrendo, mas juntos, nossas mãos presas, dedos entre dedos. Eu conseguia ver meu sorriso refletido dentro dos seus olhos.
Sobre o trilho do trem continuamos. Pela janela o sol se põe enquanto o nosso silencio serve como despedida. Nada sobre nós, tudo sobre nossas mentes, agudo, agonizante, e mal sabíamos que era a ultima vez.
Eu apenas quero esquecer tudo o que queremos, tudo, todas as chegadas e despedidas,
todo o choro, nossos corpos e sentimentos dispostos a poder e não poder. A sanidade de que tudo iria embora, ou nada que viesse pudesse mudar a nosso favor. Sabíamos sim, desde o inicio, sabíamos do fim, o que não sabíamos é que ele chegou tão depressa que nem podemos tentar fazê-lo parar, pedir mais uma vez, foi assim simples, simples do mesmo jeito
um dia eu acordei e eu te amava e podia olhar pro lado e você estava la, tão simples que um dia eu acordei, e tive que acreditar de vez que tudo se foi. Isso matava, engolia, mas tentar acreditar que não, matava mais.
As coisas foram simples, e todas foram lindas. Grandiosas. Desde de todas as montanhas que me levaram ate você, até o primeiro olhar. Até ficar parada atrás de você do lado da pilastra. De todas as vontades que nos uniram as poucas vezes e cada toque e cada troca de sonhos,
de todas as portas atravessadas, as esperas, o prazer de caminhar na chuva, nossos olhos molhados, sobre as gotas víamos a chuva caindo sobre o reflexo das iluminárias, fazendo poças no chão. O barulho da chuva sobre a janela do quarto andar, nos acolhia, nos fazia acreditar mais, ou nos fazia querer acreditar mais. De todos as céus azuis, a grama que nos acolhia, de todas as estrelas que nos seguiram, caíram sobre nós, sobre nossas cabeças, continuamos, elas continuam a nos seguir por todos os lados. Elas nos mostrou que não conseguimos atravessar esse rio.