Tem dia que eu escrevo só em pensamento. Fico um tempo com o lápis na mão olhando para um ponto fixo. Escrevo mil coisas, e quando olho para o papel em branco ele me pergunta, ei , você nao vai me usar hoje?- então eu o pego e o amasso, como se tudo o que pensei e escrevi dentro de mim, fosse amassado e depois jogado na lata do lixo.

Fantasmas e Vodka


Minha liberdade me destroe. Me sinto infortunada, cansada e sozinha nesse espaço oco e vazio, cheio de vozes, luzes, sapatos e dentes. Dentes que brilham.
A grandeza desses corpos estranhos se movimentando enquanto eu me sinto em velocidade abstrata, enquanto o tempo, os corpos, e vento e tudo estão lentos. Sopra esse vento gelado nos meus cabelos, sopra o sopro mentiroso dessa existência. Existir num espaço de tempo contado. Existir na contagem regressiva de não mais existir. Existir na contagem de um tempo que não existe.
Pra que viver, se podemos o tempo todo apenas existir. Existir pros outros. Se doar pro outro.
Ter medo do escuro, e quando alguem apagar a luz, esperar que alguem te ajude a acendê-la novamente.
Eu andei pensando sobre a existência do meu vazio. Dentro do meu vazio eu guardo tanta coisa. Dentro do meu vazio existe mais do que de dentro do que está cheio. O vazio é tão mais infinito, incerto, incorreto, incolor. Dentro dos meus olhos vazios existem coisas que você jamais poderá ver. Dentro dos meus olhos vazios existem tantas imensidões. Dentro dos meus olhos vazios se você nao entender, não digo nada a respeito. Tambem pode ser que o que você tenha visto possa ser uma ilusão.
Pra que ter dente, se sorrir não é verdade pra quem sofre.
Minha liberdade faz parte da loucura que condenam. Enquanto existem os que correm contra, eu corro a favor. Eu corro sobre os corpos em cãmera lenta pela insanidade. Enquanto correm dos loucos, eu tento me manter sendo um. Esses corpos loucos, enganados por si mesmo. Eu perco a sanidade para não tentar só existir. Minha liberdade é abstrata. Perdida num espaço ilusório, de faz-de-conta, contraditório; Onde a liberdade de cada um que aprisiona.
Minha liberdade não vem da alma, por ela estar presa na escuridão ou na luz, enquanto eu não quero que ela esteja em nenhuma das duas. Minha liberdade perdeu o paladar, não sente mais nada. Minha liberdade se destroe.

Seja breve, bem breve, não tenho tempo pra pisar no chão
Minha realidade me destroi, prefiro voar em cima das nuvens da minha ilusão
Seja breve enquanto que te digo tudo isso, só sou eu mesma que me escuto
Deixa querida o mar afogar teus medos, tapar seus ouvidos
Seja breve pra si mesma
Seja breve pra mim, que não falo nada mas ao mesmo tempo digo tanto coisa
Não é só a boca que fala
Deixa teu corpo falar
Ou melhor, deixa teu corpo ouvir

Deixa no mar teu escuro querida

Apesar de,


Entre rasbiscos que eu fazia nos papeis antes mesmo de saber escrever alguma palavra, logo criei poeminhas de criança em cadernos rosas, cheio de adesivos bonitinhos. Para passar para uma realidade de o que era estar vivendo tudo aquilo que eu tinha pra viver, diante de dores, imcompreensões, confusões, e magoas. Na adolescência criei um caderno que eu dava o nome de "caderno de pensamentos" , e neles eu guardo o registro de sentimentos sinceros. Fui crescendo registrando cada pensamento, cada mudança. Começando a andar de skate,e junto com isso, a sonhar depois que eu pisei em cima dele. Depois de escrever tantas coisas, tantos versos, tantas paginas, de sonhos, e ilusões perdidas, e sonhos que se foram, e outros que vieram. Diante de uma cama de hospital, depois de 5 pinos no joelho, depois de um caderno todo escrito em um mês, depois de lágrimas, de questões, de voltar a sonhar, e perder tudo de novo, por um segundo, ganhei outra cirurgia, ganhei mais 4 pinos no outro joelho, ganhei consultas na psicóloga, mas ganhei tambem livros, livros que li, histórias que absorvi pra dentro de mim. Ganhei novos pensamentos, novos versos, novas dores, e frustações, novos sonhos, novos gostos, e sabores. Conheci o que é ser outra pessoa por minutos diante de um palco. Realizando o sonho de criança de estar num palco, e atuar, á subir em um trapézio, ou girar em uma lira. Ganhei uma tatuagem no braço esquerdo, com o titulo de "Apesar de," que dá titulo a todas as questões que é você estar vivendo o tempo todo entre tantos apesares, e apesar de, que as coisas costumam acontecer, sejam boas ou ruins. E entre o amargo e o doce que saiu linhas que viraram paginas, e viraram um blog, que viraram realidade, que viraram ficçao, que viraram misturas entre ambas, que viraram este livro Apesar de,

e as folhas de outono começam a cair
e junto elas te levam
e eu estou indo embora, embora sozinha
pra uma casa qualquer
desconhecida
onde tudo é quente e pode ficar frio
tão frio sem tua mão pra me segurar
quando eu estiver caindo
caindo sozinha
deitada sobre as folhas de outono
espero a primavera chegar, te trazer devolta
em uma tarde de domindo qualquer
longe de casa, perto de ti